quinta-feira, 8 de setembro de 2011

COMPARAÇÃO ENTRE O CONCEITO DE INDIVIDUO ENTRE RUTH BENEDICT E LÉVI-STRAUSS

Gente,

O aluno Rodrigo Perreira gentilmente repassou um artigo que ele escreveu comparando o conceito do indivíduo na obra de Ruth Benedict com o mesmo na obra de Lévi-Strauss. O artigo é interessante e é uma boa leitura complementar para nosso curso. Infelizmente, não consegui reproduzir os gráficos que acompanham o artigo.



Ruth Benedict e a Escola de Personalidade e Cultura Norte-Americana:

            Seguindo os postulados de Boas quanto à visão psicológica da construção do sujeito e da sua interação com a sociedade, Ruth Benedict se perguntará em até que ponto as características mentais humanas são inatas ou adquiridas. O contexto de sua questão é uma clara contristação ao Evolucionismo Inglês ainda em debate e a necessidade de explicar a diversidade cultural existente encontrada por seu mestre Franz Boas.    
            Conforme Erksen e Nielsen (2007, p. 77-78) a ênfase desta autora está na relação entre os fatores psicológicos e nas condições de socialização que gerarão no sujeito sua cultura e emoção/sentimentos, o que leva a percepção de que estes são interligados. Há uma enorme ponte entre estes pólos, que se apresentam muito mais complementares que antagônicos:
[...] Benedict desenvolveu a idéia de que a cultura pode ser analisada como um padrão macropsicológico. Em vez de catalogar a substancia das culturas, ela procurava identificar a configuração da ‘personalidade’ coletiva das culturas, o ‘estilo emocional’ ou a ‘estética’ com que ela permeava a ação, a emoção e o pensamento. [...] Benedict também procurava explicar como um ethos se relacionava com práticas e instituições sociais, e nessas passagens ela se aproxima das idéias holísticas do estruturalismo-funcionalista. (ERIKSEN e NIELSEN, 2007, p. 78-79)[1].
           
A visão de Ruth Benedict postula que por mais que os indivíduos possam realizar ações individuais estas sempre serão precedidas por parâmetros socialmente definidos pelo “costume do grupo”, ou seja, a cultura é dada pela socialização, daí perceber uma “personalidade cultural” ou um ethos de vida no grupo. Há a idéia de que a cultura/costume é um agente superior e independente dos membros da sociedade (o que a aproxima do estrutural-funcionalismo). Podendo-se, portanto, perceber a relação sujeito e sociedade da seguinte forma[2]:


            A partir deste esquema percebe-se que a autora vê a ação do individuo dentro do contexto específico na qual a sua cultura opera, sendo este, em seus costumes, crenças e sentimento sempre está moldado pela primeira (observe-se o caso da cultura japonesa estudada na obra “O crisântemo e a espada”, 1944[3]).
 Contrariando o evolucionismo, Ruth Benedict percebe a pluralidade da cultura e sociedade (não germes únicos que se desenvolvem de forma diferente, em diferentes estágios), mas é cada cultura que molda as ações, emoções e socializações do sujeito. Padrões de emoção são socialmente compartilhados, ou seja, sócio-psicologicamente e culturalmente construídos pelo grupo.
            Nesta oposição ao evolucionismo, mas tendendo a uma possível leitura e/ou ligação ao funcionalismo, a autora desenvolve que o estudo comparativo da história humana no mundo é uma forma de compreensão da distribuição destes recortes culturais universais do homem. Tais organizações condicionam os costumes e a cultura, e permitem, ao serem investigadas, comparações e generalizações das formas culturais humanas, nunca de uma evolução linear e universal do homem[4].
Esta posição assumida pode ficar mais clara quando a autora afirma: “não há exatamente antagonismo entre o papel da sociedade e o do indivíduo [...] a cultura da sociedade proporciona a matéria-prima com a qual o indivíduo faz sua vida [...]” (BENEDICT, 1971, p. 215-216). Quando se afirma uma proximidade com o funcionalismo esta coloca-se na relação inicial entre sujeito e sociedade, mas não na plenitude dos postulados funcionalistas. Ruth Benedict afirma que a sociedade jamais é uma entidade separável dos sujeitos (BENEDICT, 1971), o que descarta o postulado de Malinowski e Radcliffe-Brown sobre o Organismo Social como um Todo. Contudo, há a ligação psicológica de socialização do indivíduo PELA cultura. Ou seja, a conduta do indivíduo é moldada psicologicamente e culturalmente pela sociedade e não é possível estudar e entender o indivíduo sem entender estes mecanismos psicológicos.
A grande chave de diferenciação para o funcionalismo está na análise a partir do campo psicológico, não de algo pré-dado socialmente ou de necessidades biológicas permeando a construção da cultura e sociedade. Emoções, ações e cultura estão interligadas entre si, e entre elas estão os indivíduos. Assim, deve-se observar, principalmente, o campo psicológico individual do sujeito:
Temos visto que toda sociedade elege algum segmento de metas da possível conduta humana; e na medida em que consegue integração, tendem suas instituições a alargar/dilatar a expressão do segmento por ela elegido e a inibir as expressões opostas. Porem estas expressões opostas são, entretanto, as respostas adequadas de uma certa proporção dos portadores desta cultura (BENEDICT, 1971, p. 217). 
           
Portanto, a abordagem de indivíduo e de sociedade em Ruth Benedict é uma abordagem do “costume do grupo”, dado pela interação psico-social. Seu foco de estudo antropológico é [...] “entender o modo em que essas culturas modificam e se diferenciam; as diversas formas através das quais se expressam, e a maneira em que os costumes dos povos acionam-se na vida dos indivíduos que os compõem”. (BENEDICT, 1971, p. 09).
A partir de uma palestra proferida a pedido da UNESCO (1948) pode-se notar a ligação que esta autora faz entre o campo biológico, o psicológico e o social no tocante a defesa da diversidade cultural. Concluindo com um destaque para os estudos psicossomáticos e psiquiatria – ponto que a ligará com Lévi-Strauss nesta análise:
Os padrões culturais que os homens em todas as sociedades inventam para si mesmos e transmitem para as gerações futuras têm, em cada comunidade, um considerável grau de consistência entre si. Esses padrões de comportamento aprendido têm que ser ensinados novamente para cada nova geração. Não importa o quão distintamente francesa a França possa parecer em comparação a outros países, ou o quão holandesa a Holanda pareça, a cada nova geração as personalidades da França e da Holanda mudam completamente. Uma geração morre e outra nasce. No modo pelo qual os pais lidam com seus bebês, no modo pelo qual outras crianças tratam as crianças mais novas, no modo pelo qual os professores recompensam e punem seus alunos, emoções são selecionadas e cultivadas, formando-os para serem membros de sua própria comunidade e nação. [...] O estudo genético das diferentes culturas é precisamente o estudo de como cada geração é condicionada a “se tornar um responsável participante” no modo de vida que é tradicional na comunidade em que nasceu. O desenvolvimento técnico desse estudo é possível, hoje, devido ao conhecimento que tem sido adquirido por meio de várias ciências irmãs, todas envolvidas em tais estudos genéticos: a) o estudo do amadurecimento físico da criança; b) estudos médicos no campo psicossomático; c) a psiquiatria. (BENEDICT, 1948, p. 2, 3-4) [grifos meus].

Lévi-Strauss e o Estruturalismo Francês:

            Tendo como modelo a lingüística Lévi-Strauss desenvolve uma antropologia em que pergunta-se não o que é cultura ou sociedade, mas ONDE começa o homem e a sociedade, ou seja, qual o limite entre a natureza humana e a cultura (tida, então, como construção sobre a natureza humana). O valor da cultura é dado pelo grupo, tal como a gramática de uma língua. A mesma ordenação que uma língua/gramática possui também está presente na cultura: ordenações, regras (principalmente) e determinadas posições que inferem valores em determinados sentidos. Resumidamente: a cultura possui princípios ordenatórios, tal qual uma gramática.
            Lévi-Strauss dá continuidade ao pensamento binário classificatório de Marcel Mauss (2002) e, obviamente, da linha de Durkheim. Percebendo, assim, que a mente humana opera em pares binários finitos e em trocas – simbólicas e materiais; o conceito de “limite” entre natureza e cultura já opera nesta lógica e é este o ponto mestre para a compreensão do Estruturalismo.
            Ao analisar o homem este antropólogo nota que é o processo de socialização que transporta o ser da natureza para a cultura. É o processo de socialização ou internalização das regras criadas que torna o animal homem “homem”. Tal como se perguntou Rousseau sobre a construção do ser social humano, tal será a grande chave antropológica de Lévi-Strauss. Assim, falar de natureza humana é algo incerto, pois o que foi adquirido e o que é inato misturam-se. Pensar, porém, no instinto humano é pensar como houve uma primazia das regras socialmente construídas e compartilhadas sobre esta marca animal no homo sapiens. Portanto, a marca do comportamento humano é a criação de regras que moldam o instinto animal.
            Pensar nestas regras opera-se da mesma forma tal como uma linguagem, só que de forma universal, pensando na transposição do instinto para a sociedade. (como exemplo poderia-se falar na regra que barra o incesto, descrita por Freud em “Totem e Tabu”, 1974). Desta forma, duas afirmações podem ser feitas: O comportamento será socialmente construído e as regras mesmo que universais são construídas por cada grupo em sua especificidade. São as regras que estruturam a vida sócio-cultural dos grupos (tal como uma língua estrutura as regras da escrita e da fala) – daí sua antropologia ter este caráter “Estruturalista” na busca pelos alicerces que fundaram a vida social e as normas que possibilitaram a criação de significados culturais.
            Assim, a par da existência de Regras, Lévi-Strauss somará a elas a Troca (idéia vinda de Marcel Mauss - 2001 - em que a troca está na base das classificações e regras humanas universais) para compor sua teoria sobre a cultura e sociedade. São as Trocas e as Regras que fundam a sociedade humana.
            Merleau-Ponty (1980, p. 194-195) destaca que Mauss percebeu a magia e a troca, no “Ensaio sobre a dádiva” como um
“ [...] sistema eficaz de símbolos ou uma rede de valores simbólicos [...] concebendo o social como simbolismo, consegui encontrar o meio para respeitar a realidade do indivíduo, a do social e a variedade das culturas sem torná-las impermeáveis à outra [...]. Estando aí aberta a possibilidade de, por exemplo, no caso do Mana, “[...] a troca não seria um efeito da sociedade, mas a própria sociedade em ato [...]” (MERLEAU-PONTY, 1980, p. 195).
            É a partir desta constatação que Lévi-Strauss conseguirá pensar o indivíduo e a sociedade como uma estrutura: “A nova concepção vai denominar estrutura à maneira como a troca está organizada em um setor da sociedade ou na sociedade inteira. Os fatos sociais não são mais idéias: são estruturas [...]”. (MERLEAU-PONTY, 1980, p. 195). 
            Pode-se, portanto, entender o estruturalismo como a teoria que busca as qualidades gerais dos sistemas significativos (parentesco, mitos, religião), onde tais sistemas constituem-se como elementos em relação à, nunca categorias ou objetos delineados. O significado cultural de algo, tal como a palavra na lingüística, deriva da relação – contraste ou diferença –  entre elementos culturais. A troca e a relação destes elementos é que dá o valor às relações. Assim, seu livro “As Estruturas Elementares do Parentesco” (1982) seria a grande teoria e prova de que as sociedades se organizam na base da Troca e das Regras.
            É nesta obra que Lévi-Strauss colocará os pressupostos da análise estrutural: 1º - buscar as estruturas fundantes da sociedade, 2º - deduzir seus princípios subjacentes (sua lógica) e 3º - chegar a “Lógica Universal da Comunicação Humana” (Lévi-Strauss, 1982) – já que estas estruturas são formas culturais de apropriação da natureza humana.
            As estruturas elementares do parentesco (1982) coloca que este não era, a principio, uma forma de organização social, mas um sistema significativo – de relações – que fundava não o traço social das relações pai-filho (por exemplo), mas o laço construído socialmente entre homem e mulher para barrar o incesto. O parentesco é o ponto de indeterminação da biologia – a escolha do cônjuge. A troca para o casamento é a passagem do biológico para o social (impedir o incesto). É o nascimento da cultura apropriando-se dos instintos humanos do incesto.
A inculcação das normas posterior a sua criação é, pois, um fenômeno psicológico. Tal fato gera um ciclo que liga a biologia à sociedade:

Dois exemplos ainda podem ser dados como Estruturas Universais do Pensamento Humano: os mitos e as formas de pensamento. Respectivamente trabalhados nas obras “Mito e Significado” (1985) e “O Pensamento Selvagem” (1997) – bem como a obra correlata “O Totemismo Hoje” (1986). Na primeira o autor debate o poder dos mitos como forma de também explicar a realidade, com a sua lógica e a sua transposição da natureza humana para a cultura, destacando o peso que foi dado a ciência nos últimos séculos em detrimento ao conhecimento mítico.
O Totemismo hoje é um texto que debate a diferenciação da natureza humana e da cultura. Antecede o grande debate dO Pensamento Selvagem onde analisa os termos dicotômicos “primitivo” e “moderno” (reminiscência de Durkheim), percebendo que os ditos primitivos tem a mesma capacidade de conhecer e explicar a realidade, tal como a racionalidade moderna. Ambos são regidos por leis complexas, mas princípios diferentes.
Ao dito primitivo cabe a criação de estruturas a partir de eventos (mitos), ao moderno cabe a criação de inventos a partir de abstrações (estruturas) que criam realidades e interferem no real. Contudo, ambos dão conta da realidade humana transposta do animal. Sobre este principio ordenatório afirma Lévi-Strauss (1997, p. 25): essa exigência de ordem constituí a base do pensamento que denominamos primitivo, mas unicamente pelo fato de que constituí a base de todo pensamento [...]. Ou seja, o dito pensamento selvagem ou totêmico é uma forma racional de lidar com a natureza humana, não é uma ilusão, mas um mecanismo estruturante do pensamento humano universal. Assim, o totemismo é uma das regras que opera-se na transposição da natureza humana para a cultura.
A lógica – racional ou totêmica/primitiva é uma estrutura designada pela sociedade para ordenar o caos da natureza (física e da psique humana). Ela é uma forma de classificar o real via pensamento (via cultura), sendo esta classificação variada conforme o grupo social. Daí cada grupo criar sua estrutura inerente a sua realidade. Há, para Lévi-Strauss, uma homologia suposta entre o cérebro e as estruturas, daí estas serem universais e binárias (as formas são iguais, mas os conteúdos diferentes). É a adequação do aparelho neurofisiológico para a criação de estruturas simbólicas.

Ruth Benedict e Lévi-Strauss: aproximações possíveis

            A aproximação que desenvolve-se nesta análise comparativa entre Lévi-Strauss e Ruth Benedict refere-se ao campo psicológico e como este é importante, em ambos os autores, para a formação do indivíduo. De formas bem semelhantes ambos autores vêem no inculcamento das regras, o que leva esta análise a passar, obrigatoriamente, pelas teorias psicanalíticas de Freud.
            A idéia central a ser desenvolvida é que em ambos é o campo psicológico que influi na formação do sujeito e, obviamente, sociedade. Tendo-se que todas as normas são interiorizadas pelo sujeito, via processo de socialização, no grupo e que, portanto, a cultura é uma construção que vem dessa internalização pode-se afirmar uma ligação entre a visão psico-culturalista de Ruth Benedict e a transposição da natureza humana para Regras e Trocas em Lévi-Strauss.
            Como o objetivo da análise não é teorizar Freud, optou-se por não seguir a linha das pulsões freudianas – Eros e Tanatos – (1974), mas sim a criação da civilização
“[...] o problema da civilização tal como é apresentado por Freud em O mal-estar na civilização. Civilização é definida, nesse texto como o conjunto de realizações e regras para ‘proteger os homens contra a natureza’ [...] e reger o relacionamento entre eles. Assim, a civilização traz o benefício de impedir que o mais forte sempre prevaleça sobre o mais fraco, delegando o poder à comunidade e não mais ao indivíduo pela instituição da justiça [...]” (VIEIRA DA SILVA, 2000, p. 48)

            Do exposto, percebe-se que este processo de interiorização do mundo é algo inerente ao surgimento da civilização. Este processo torna-se claro em Lévi-Strauss e no que já foi exposto. Esta chave de “ligação” entre o indivíduo, a sociedade e sua natureza humana pode ser tida como o mesmo conceito de Ethos que Ruth Benedict desenvolve ao estudar os japoneses durante a Segunda Guerra Mundial em sua obra “O Crisântemo e a Espada” (2002).
            Primeiramente, pode-se citar o que ela analisa como o significado para o devotamento filial ou dívida de posição entre os japoneses como mecanismo de interiozação das regras culturais e do significado do indivíduo:
“O devotamento filial no Japão, portanto, é uma questão circunscrita a uma limitada família convivente. Consiste em assumir a devida posição de cada um, de acordo com a geração, o sexo e a idade, no seio de um grupo que o inclui pouco mais do que o pai e o pai do pai de cada um, assim como seus irmãos e descendentes. Mesmo em casas importantes, onde se incluam grupos maiores, a família se divide em linhas separadas e os filhos mais jovens dão origem a novas ramificações. Dentro deste restrito grupo convivente, são meticulosas as regras que prescrevem a devida posição [...]”. (BENEDICT, 2002, p. 50)
           
Observando o Ethos japonês na guerra a autora percebe que este inculcamento familiar também ocorre em nível social, afirmando que:
“Todo japonês primeiro adquire o hábito da hierarquia no seio da família e posteriormente os aplica nos campos mais vastos da vida econômica e do governo. Aprende que uma pessoa dedica toda deferência aos que sobre ela têm precedência, numa devida posição determinada, sejam ou não eles os realmente dominantes do grupo [...] “.(BENEDICT, 2002, p. 53)

            Relendo seus postulados pela linha estruturalista de Lévi-Strauss esta interiorização familiar e social da hierarquia japonesa é, sem dúvida, a criação de Regras e, posteriormente de Trocas (a vida do soldado kamikaze que é dada em favor da supremacia japonesa na guerra e de seu expansionismo pelo Oriente):
“O fato de os japoneses amarem e confiarem no seu meticulosamente explícito quadro de conduta não deixava de ter certa justificação. Garantia a segurança, contanto que se obedecesse às regras; permitia protestos contra agressões injustificadas e poderia ser manipulado em vantagem própria. Exigia o cumprimento de obrigações recíprocas [...]”.(BENEDICT, 2002, p. 53).

            Assim, mesmo tendo décadas de diferenciação entre suas produções, Ruth Benedict e Lévi-Strauss convergem no mesmo ponto de psicologismo para entender a formação do indivíduo e da cultura. Apesar de seguirem caminhos relativamente diferentes, ambos autores vêem a sociedade e o indivíduo/sujeito como uma criação de Normas e/ou Regras e Trocas que são interiorizadas pelo processo de socialização.
            Nesta análise é este mecanismo que permite realizar não apenas uma comparação teórica, mas também a verificação de um possível quadro somatório para a compreensão do sujeito e da sociedade formada via mecanismos psíquicos.
            Reafirma-se que, para tanto, a utilização das teorias psicanalíticas de Freud são de extrema necessidade e, conseqüentemente, complementaridade desta  análise. Abre-se aqui um parêntese para, ao citar a percepção de Freud do psiquismo, presentificar Ruth Benedict e Lévi-Strauss dentro de uma mesma linha:

Figura 01 – A analogia do iceberg de Freud
(Fonte: http://dictionary-psychology.com/photos/concious-iceberg_analogy.JPG)

O inconsciente de Freud seria, ao mesmo tempo, o estado de natureza de Lévi-Strauss, bem como o indivíduo ainda não moldado psicologicamente e culturalmente pela sociedade de Ruth Benedict. A passagem para o consciente é a efetivação das Regras e Trocas do autor estruturalista francês no indivíduo e sociedade e o conceito de Ethos cultural de Ruth Benedict, ou seja, a configuração das personalidades coletivas das culturas presentes no mundo.



Referências Bibliográficas:

BENEDICT, R. El hombre y la cultura. Buenos Aires: Centro Editor de América Latina, 1971.

___________. O crisântemo e a espada. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2002.

___________. Última mensagem de Ruth Benedict sobre Continuidade Cultural no Mundo Civilizado (Palestra conferida no Seminário de Praga). Correio da UNESCO, 1948. Disponível em: http://typo38.unesco.org/fileadmin/COURRIER/PDF/ruth_benedict_clt_pt.pdf. Consultado em 13 jul. de 2010. 

ERIKSEN, T. H; NIELSEN, F. S. História da antropologia. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

FREUD, S. O mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1974.

_________.Totem e Tabu e outros trabalhos. Volume XIII (1913-1914). Rio de Janeiro: Imago, 1974.

LÉVI-STRAUSS, C. As estruturas elementares do parentesco. Petrópolis: vozes, 1982 (Antropologia, 9).

____________. O totemismo hoje. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1986.

____________. O pensamento selvagem. 2. ed. Campinas, SP: Papirus, 1997.

____________. Mito e significado. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1985.

MERLEAU-PONTY, M. De Mauss a Claude Lévi-Strauss. In: Maurice Merleau-Ponty: Textos Selecionados. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 193-206.

PEREIRA, J. Freud e o Inconsciente. Disponível em: http://joanapsicologia12.blogspot.com/2010/05/freud-e-o-inconsciente.html. Consultado em 13 jul. de 2010. 

MAUSS, M. Ensaio sobre a dádiva. Lisboa/Portugal: Edições 70, 2001.

ROUSSEAU, J. J. O contrato social. Porto Alegre: L&PM, 2006.

VIEIRA DA SILVA, C. Nietzsche, Freud e o problema da cultura. In: Cadernos Nietzsche, 8, p. 43-54, 2000.



[1] Optou-se por uma livre tradução da obra em espanhol para o presente artigo comparativo. (N.A.).
[2] Conforme a obra: El hombre y la cultura (1971).
[3] Cconvidada pelo governo norte-americano durante a 2ª Guerra Mundial, Ruth Benedict busca elucidar o caráter nacional japonês na guerra, “[...] o livro procura descrever o ethos da cultura japonesa e estabelecer uma tensão psicológica fundamental nessa cultura entre a violência brutal e o estetismo delicado”. (ERIKSEN e NIELSEN, 2007, p. 79), ou seja, entre a razão e a emoção.
[4] “O estudo minucioso das sociedades primitivas é importante hoje, como temos dito [afirmado], sobretudo porque proporciona o material para a investigação das formas e processos culturais. Eles nos ajudam a diferenciar entre as respostas que são específicas e os tipos culturais locais e essas outras que são gerais na humanidade. Fora disto [além disso,] nos ajudam a estimar e compreender o papel imensamente importante da conduta socialmente condicionada. A cultura com seus processos e funções são assuntos para o qual necessitamos toda iluminação que conseguirmos alcançar, e não há lugar em que possamos buscar com mais proveito que nos feitos das sociedades iletradas”. (BENEDICT, R. El hombre y la cultura. Buenos Aires: Centro Editor de América Latina, 1971, p. 25).